sábado, 25 de junho de 2011

RETÁBULO


S.M CONSTRUÇÃO de MADEIRA, de MÁRMORE ou de OUTRO MATERIAL, com LAVORES, que fica por trás e/ou acima do ALTAR e que, NOEMALMENTE, ENCERRA um ou mais PAINÉS PINTADOS ou em BAIXO-RELEVO. (Novo Dicionário Aurélio, 1a. edição, S/D)


FICHA TÉCNICA

retábulo : Adaptação cênica da narrativa "RETÁBULO DE SANTA JOANA CAROLINA de OSMAN LINS.

direção LUÍZ CARLOS VASCONCELOS
dramaturgia LUÍZ CARLOS VASCONCELOS, MÁRCIO MARCIANO e GRUPO PIOLLIN
interpretes BUDA LIRA, EVERALDO PONTES, INGRID TIGUEIRO, LUANA LIMA, NANEGO LIRA, SERVILIO de HOLANDA, SOIA LIRA e SUZY LOPES.

consultoria e composição musical ELI-ERI MOURA e MARCÍLIO ONOFRE
iluminação LUÍZ CARLOS VASCONCELOS e ELOY PESSOA
operação de luz ELOY PESSOA

figurinista ANA ISAURA NOGUEIRA
concepção de figurino CONSTRUÇÃO COLETIVA em PROCESSO (ANA ISAURA, TAINÁ MACEDO, CASA dos COSTUMES - SP)
costureira MARIA JOSÉ

cenário LUÍZ CARLOS VASCONCELOS
contra-regra WALTER LUÍZ
fotografia e programação visual RICARDO PEIXOTO

produção geral PIOLLIN GRUPO de TEATRO
produção executiva CRISTINE LUCENA
assistente de produção KÊNIA QUEIROZ e MARCELINA MORAIS

serviços gerais MARIA da CONCEIÇÃO de SOUZA
eletricista WALTER LUIZ
assessria administrativa ANA LUISA CAMINO

assessoria de comunicação CALINA BISPO, OLGA COSTA e SUZY LOPES (adm. do blog)
assessoria contábil MÉRCIA FELINTO

duração 65 MINUTOS
classificação 10 ANOS

contatos (83) 8680-3028 (83) 3241-4807 (83) 9983-6420 
R. SIZENANDO COSTA, S/N
RÓGER
JOÃO PESSOA - PB
cep. 58.020-590


agradecimentos
LITÂNIA LINS, LETÍCIA LINS, ÂNGELA da COSTA LINS, CENTRO CULTURAL PIOLLIN, HAROLDO REGO, LENI de FREITAS, ROBSON TELLES, ERMELINDA FERREIRA, ROBSON JORGE (Centro Ténico de Artes Cênicas de Funarte), ALAN MONTEIRO, CELY FARIAS, ELISA TOLEDO, MARCOS PINTO, DADÁ VENCESLAU, SERECO, SIDNEY AZEVEDO, TAINÁ MACEDO, ZENO ZANARDI, NAV PIOLLIN, CRIS CAMARGO, JOANA PORTO e MARJORIE GUELLER (Casa dos Costumes - SP), BERENICE HADDAD, BRUNO TORRES, FRANCISCO, BOSCO e BRUNA (Sesc Iracema - Fortaleza -CE), ANDERSON e CLOWNS DE SHAKESPEARE (RN), ROBERTO ASSUNÇÃO, HELDER VASCONCELOS, DANE de JADE, MÁRCIO MEIRELES, PABLO RAMIRES, NTU /COEX / PRAC / UFPB, GRUPO dE TEATRO BIGORNA, MARIAMA IRELAND, GUARDA MUNICIPAL de JOÃO PESSOA, FUNJOP.




sexta-feira, 3 de junho de 2011

TEATRO NÃO É BOMBOM

Por Luiz Carlos Vasconcelos

 RETÁBULO é a adaptação cênica da narrativa "Retábulo de Santa Joana Carolina" contida no livro “Nove, Novena” de Osman Lins. Fala de Joana Carolina e de todos seus sofrimentos de mulher simples do povo através de vários eu narradores. 

 Em 1998, em Belo Horizonte, durante o Encontro Mundial das Artes Cênicas – ECUM, tomei conhecimento, através da palestra da profesora Leni de Freitas, do processo de rigorosa construção do romance AVALOVARA de Osman Lins, apoiada também, no rigor de outra construção, o poema latino de cinco palavras, cada qual composta de cinco letras: SATOR, AREPO, TENET, OPERA, ROTAS. O poema é apresentado com as palabras sobrepostas umas às outras formando um quadrado de 5x5, com vinte e cinco quadrados menores, cada um contendo uma das letra daquelas palabras, todas  palindrômicas, ou seja: que podem ser lidas da direita para a esquerda, da esquerda para a direita, de cima para baixo e de baixo para cima, mantendo sempre o mesmo sentido – “O lavrador sustem cuidadosamente a charrua nos sulcos”  ou, “O lavrador sustem cuidadosamente o mundo em sua órbita.” – Criador e criação – dimensão humana e dimenção Divina.
Partindo da estrutura deste quadrado e sobrepondo a ele o traçado de uma espiral que vai tocando sucesivamente as letra, e cada uma destas correspondendo a uma linha da narrativa do romance, num total de oito narrativas, Osman Lins constroi sua ficção multefacetada, dentro de um esquema rigoroso e fascinante para o leitor.
Desde então venho estudando as estruturas, tanto as existentes na naturesa quanto as urdidas pela criatividade humana, como no caso da obra de Osman Lins, na tentativa de responder às questões nascidas durante aquele evento na capital mineira:
É possível também a construção cênica se apoiar em estruturas rigorosas pré-existentes, neste caso específico, na estrutura do poema SATOR? Ou:  É possível uma cena palindrômica, digo: reversa e simultânea, que tenta refletir em si, na maneira como se estrutura, a ordem e a desordem existente no mundo? Como utilizar estas estruturas e seus trajetos mágicos para narrar no teatro?
Entendo que esta questão, sobre a maneira de narrar, é a questão fundamental da cena atual. Como construir, para o público de hoje, narrativas cênicas que possam realmente, instaurar no teatro o não convencional?
A encenação do Piollin Grupo de Teatro  tenta dialogar  com as proposituras narrativas osmanianas, tentando instaurar uma cena também rigorosa, apoiada simultaneamente na poesia da palavra e do corpo em ação.
Oito atores trabalham sobre o, agora tabuleiro, do poema SATOR/ROTAS, seus trajetos simultâneos e reversos. Uma narrativa circular e fragmentada onde as partes se misturam para compor uma unidade, como num retábulo.

Parafraseando Osman Lins podemos dizer "Teatro não é bombom que se suga displicentemente."

Fotos: Rodolfo Vasconcelos







Fotos: Lays Amaro








PROCESSO DE ENSAIO



Fotos: Lílian Régis


Faça o play e veja o vídeo

sexta-feira, 25 de março de 2011

Forma e conteúdo confluem em ‘Retábulo’ - Crítica JORNAL DA PARAÍBA

            Numa das cenas finais de Retábulo, espetáculo do Piollin que nos próximos dias encerra uma longa e corajosa temporada que teve início em janeiro, com cinco sessões semanais (algo raro e digno de incentivo por aqui), malas de viagem são convertidas num labirinto sepulcral por onde passeia o vulto desamparado de Joana Carolina.
            Envolvido que está pelo desenlace da trama, o público mal se dá conta de como todos aqueles objetos foram parar ali. Mérito da marcação precisa e da movimentação atordoante do elenco, que soube ocupar os espaços quadrangulares do palco com a simetria proposta por Luiz Carlos Vasconcelos para compor uma narrativa que, pelo menos visualmente, remetesse à estrutura palindrômica na qual se inspira a base sobre a qual o cenário é montado.
             Certos procedimentos teatrais tentam também reproduzir essa dinâmica apoiada em antípodas, como o artifício de estabelecer planos simultâneos em que a mesma cena é interpretada por diferentes atores, ou a narração e a dramatização se mimetizando. As pretensões em torno da obra intrincada de Osman Lins nem sempre alcançam o resultado mais favorável, mas o que alcança é eficaz na reelaboração dos códigos literários e em sua transposição para os teatrais.
             A sonoplastia é fustigante e algo verdadeiramente à parte. Composta por Eli-Eri Moura e Marcílio Onofre, e executada por Luana Lima num instrumento que o grupo carinhosa e poeticamente apelidou de “piolão” (por já ter sido um piano do qual só restaram as cordas, sem a carcaça), a composição musical penetra até o tutano da peça, que até aqui revela sua preocupação em fazer com que a forma adeje ao conteúdo.

RETÁBULO por Klaus Marcus Paranayba

Prezada Luana

Inicialmente sou-lhe grato pelo convite para assistir a interessante peça teatral “Retábulo”.
Permita-me alguns comentários, não sou especialista na área.

Primeiramente quero pontuar alguns dos diversos pontos favoráveis, os quais me cativaram.

ü     O enredo na linguagem poética em seu conteúdo e forma.
ü     O ambiente proporcionado pelo cenário e sua interessantíssima sonoplastia.
ü     O princípio e a conclusão têm um desfecho cíclico.
ü     A competência do elenco é perceptível em grupo e individualmente.

Agora, quero dizer de alguns pontos que creio que podem ser melhorados de forma a ampliar o brilho que às vezes fica escondido em momentos em que os textos não são ininteligíveis.

ü     Há momentos em que o texto não pode ser compreendido em sua íntegra, o que proporciona uma pausa na seqüencia lógica do entendimento.
ü     Os textos, por serem longos, e às vezes pela linguagem naturalmente regional, forçam o intelecto ao entendimento, o que faz com que alguns trechos fiquem cansativos.
ü     Comparando-se com uma obra abstrata, vamos dizer uma pintura, quando não se percebe o sentido das imagens e cores mas o encanto proporcionado pela beleza compensa o não entendimento, há um conforto pelo encantamento que se percebe. Em alguns momentos da peça não acontece nem um, nem outro.
ü     Não consegui desvendar o enigma dos arcos, talvez por perder a seqüência de algumas passagens.

Creio que favorecer o entendimento de todos os textos, mesmo que eles tenham que ser reduzidos, de forma que ao entendê-los pode-se associar a linguagem ao movimento apresentado no palco, possa facilitar ao expectador ter uma compreensão do todo e mergulhar no movimento apresentado.

Um abraço

Klaus
klauspoemas.blogspot.com

RETÁBULO - TEATRO BOM

         Vi o espetáculo,  Retábulo de Santa Joana Carolina, texto de Osman Lins, e encenação do Piollin Grupo de Teatro, direção de Luiz Carlos Vasconcelos, tema musical a cargo de Luana Lima.
         Mais uma vez, depois do inconteste sucesso do Vau da Sarapalha, Luiz Carlos e o Grupo Piolin, brindam aos espectadores com um espetáculo rico e novo, criativo, instigante e inovador
         Não sou um crítico teatral e por isso não tenho compromisso com análise alguma do trabalho. Minhas anotações são de um espectador e, a arte não é feita para os críticos, mas para os espectadores. Como tal, Retábulo me agradou: o cenário é criativo e plasticamente bonito. A iluminação, de efeitos bem construídos é também um guia do ritmo e do desenvolvimento da cena. Gostei da direção, como não gostar? Luiz Carlos é um criador de soluções novas e sabe conduzir o elenco e o público num envolvimento gratificante, mesmo com um texto que cobra muita atenção.
         O Grupo Piollin, com Everaldo Pontes, Servilio Holanda, os Lira: Nanego e Soia - presença de outros cenários, que se enriquece com Buda Lira, Suzy Lopes e Ingrid Trigueiro: Garante vida a narração.
         Um grande destaque está para o trabalho da instrumentista Luana Lima que opera um instrumento montado para o espetáculo a partir de um velho piano. Nada mais novo e magistralmente dominado. Esse trabalho põe a Paraíba em cena.
Parabéns! Vale a pena ver de novo.

Iveraldo Lucena

RETÁBULO por TIAGO LIMA

Os oito atores em cena contam a história de Joana Carolina e de todos seus sofrimentos de mulher simples, do povo. No cenário, a apresentação acontece por cima de um tabuleiro, do poema Sator/Rotas de Osman Lins; obra que intrigou e cativou Luiz Carlos Vascocelos, a trazer para a construção cênica, para o teatro, a possibilidade de uma narração reversa e simultânea como a que o escritor consegue tão primorosamente em seus poemas.

O paraibano acredita que a maneira de narrar é uma questão fundamental da cena atual. Por isso, “Retábulo” tenta dialogar com as proposituras narrativas “Osmanianas”, sendo circular e fragmentada, em que as partes se misturam para compor uma unidade.

Pareceu complicado? A palavra seria desafiador. Mas como Luís costuma parafrasear Osman Lins: “Teatro não é bombom que se suga displicentemente”.

No elenco estão os atores Buda Lira, Everaldo Pontes, Ingrid Trigueiro, Luana Lima, Nanego Lira, Servilio de Holanda, Soia Lira e Suzy Lopes.

Tiago Lima

quinta-feira, 10 de março de 2011

ÚLTIMAS SEMANAS DO RETÁBULO EM JOÃO PESSOA.

De quinta a domingo às 20:00 na Piollin!
R$ 10,00 e 5,00
Em todas as apresentações meia entrada para força de trabalhadores Petrobras e clientes cartão Petrobras. (Mediante apresentação do cartão/crachá.)
Aos domingos entrada gratuíta para alunos, ex-alunos da Piollin e seus familiares e para os alunos do curso de Teatro da UFPB. (Mediante a carteira de estudante)

Informações: (83) 8680-3028 / 3241-4807


segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

PALINDRÔMICO RETÁBULO PELO PIOLLIN



Foto: Lays Amaro

“As estrelas cadentes e as que permanecem, bólidos, cometas que atravesam o espaço como répteis, grandes nebulosas, rios de fogo e de magnitude, as ordenadas aglomerações, o espaço desdobrado, as amplidões refletidas nos espelhos do Tempo, o Sol e os planetas, nossa Lua e suas quatro fases, tudo medido pela invisível balança, com o pólen num prato, no outro as constelações, e que regula, com a mesma certeza, a distância, a vertigem, o peso e os números.” (Lins, Osman. Retábulo de Santa Joana Carolina)

Passado um mês desde que assisti a Retábulo do Piollin Grupo de Teatro em Salvador, resolvi retormar os trabalhos aqui no blog falando deste espetáculo. Normalmente escrevo sobre a peça assim que chego em casa, após a sessão, para aproveitar ainda o frescor das sensações. Desta vez fiz diferente. Afinal foram sensações que ainda ecoam em mim por se tratar de algo muito particular. Ainda escuto, por exemplo, como se fosse ontem, o coro a recitar o citado trecho acima (que abre a peça)

Cresci ouvindo falar do Piollin Grupo de Teatro, todas as pessoas as quais conheço que assistiram Vau da Sarapalha, falam desta peça com profundo envolvimento, relatando terem marcado suas vidas. Não sei se é o caso de Retábulo em mim, afinal a experiência foi recente, mas posso afirmar que o impacto foi grande. Muito embora tenha nascido e crescido em Igarassu-PE (que fica há 96 km de João Pessoa, ou seja 1h15 min. aproximadamente) os vi pela primeira vez.

Uma encenação muito a frente do teatro em voga (não que haja homogeneidade na cena contemporânea), marcada pelo cuidado estético com todo o rigor matemático tão caro a Osman Lins, que em Avalovara chega ao extremo de contar os versos que cada parágrafo deve ter.

A movimentação do coro sob o cenário palindrômico somada à música do espetáculo é o que mais nos chama atenção. São partituras muito bem cuidadas, geometricamente articuladas e divididas em cada um dos vinte e cinco quadrados. Oito atores que durante os doze mistérios mergulham no universo osmaniano com toda a profundidade e maturidade necessárias a quem se debruça sob uma pesquisa cênica instigante acerca de um universo hermético, mágico e rigoroso (que é o osmaniano) numa estética muito particular do grupo.
A história de Joana Carolina, não se entrega assim facilmente, mesmo na narrativa de Osman, que codifica os personagens através de símbolos que nos obriga quando lendo o Retábulo de Santa Joana Carolina a retornar muitas vezes a mistérios anteriores e ligar os fatos. Mesmo na cena, por muitas vezes nos confundimos um pouco com o texto do autor de a Rainha dos Cárceres da Grécia.

Aos espectadores que buscam sentimentalidades, talvez fiquem as frustrações. A encarnação daqueles personagens (quando não de um único por todos) é muito ‘seca’, com marcada precisão. As intervenções narrador-mostrador nos coloca num lugar não-confortável de passividade. E não falo de um teatro dialético do passado, falo de novas possibilidades, de um teatro dialógico, contemporâneo, diria ainda pós-dramático. A beleza do regionalismo presente no sotaque, na paisagem da história de Joana contrasta com a rigorosa estrutura das cenas, o que gera um resultado muito bacana. Estranho, porém belo. É poético o espetáculo. A sombra da morte que ronda a história nos une e nos distancia daqueles seres.

Sucesso ao Retábulo (que o grupo diz estar em construção) e vida longa ao Piollin.

Eduardo Machado

Por Ronaldo Monte

Foto: Lays Amaro

            Determinados eventos têm o poder de nos transformar de uma maneira irreversível. Não estou falando dos escândalos da paixão nem das agonias da morte, casos extremos e inevitáveis em nossa condição de viventes. Não me refiro tampouco aos fenômenos naturais, enchentes, furacões, tsunamis, nem aos desastres ambientais. Falo de acontecimentos mais sutis, que nos pegam de surpresa em certos momentos da vida. Pode ser um encontro com algum desconhecido, ou a revelação de uma qualidade nova em algum velho amigo. Você tem um colega de trabalho que vive uma vidinha de nada. De repente, ele senta num piano e toca uma sonata de Chopin. Eis um pequeno exemplo de espanto.
Existe outro tipo de acontecimento menos gratuito. É aquele que você vai procurar sem saber muito bem o que irá encontrar. Pode ser a releitura de um parágrafo de um livro que você já leu muitas vezes. Naquele exato momento, duas ou três linhas ganham um significado novo que você nunca imaginou que estivesse ali. Outras vezes é o impacto de uma música que ouvimos pela primeira vez. Pode ser também o detalhe de um quadro conhecido, mas que se mostra totalmente outro quando o vemos diretamente na parede de um museu.
Estou falando disso tudo, para chegar a uma experiência perturbadora a que me submeti no último domingo: Retábulo. O mais novo experimento cênico do Grupo de Teatro Piollin. O trabalho é uma tentativa de responder a um desafio fundamental para o teatro contemporâneo: construir, para o público de hoje, narrativas cênicas que possam, realmente, ultrapassar os limites do convencional. A resposta do Piollin foi dada a partir do texto rigoroso de Osman Lins para instaurar, nas palavras do diretor Luiz Carlos Vasconcelos , “uma cena também rigorosa, apoiada simultaneamente na poesia da palavra e do corpo em ação”.
Retábulo não é uma peça para se assistir. É uma experiência para se viver. Mergulhar com todos os sentidos e sair dela com todos os sentidos afetados pela novidade do acontecimento. E a partir daí, encontrar novos sentidos nas pequenas coisas do cotidiano.

Ronaldo Monte
Poeta, escritor, psicanalista e professor.

O país inventado por Sidney Azevedo

O país inventado - Antônio Dias

Boa noite querido Luiz, tive que sair logo que a peça terminou, não fiquei para os comentários, mas veja só, eu iria falar que, existe um trabalho icônico de um dos mais importantes artistas brasileiros, paraíbano, de nome Antônio Dias, homônimo de um personagem do Retábulo... por coincidência... que é justamente também utilizando vara de bambu, um longo caniço como estes que você utiliza sabiamente no espetáculo, segue em anexo uma imagem. deste trabalho chama-se "O país inventado". consiste numa bandeira vermelha, faltando um pedaço dela, pendendo na ponta da vara, que é sempre montada em espaços diferentes, no ângulo próximo ao de quem está pescando algo... neste trabalho Antônio Dias discute questões pertinentes aos conceitos de território e pertencimento do "eu" no mundo, na transcendência dos limites, diante da perda ou libertação do referente convencional dado pela imagem de uma bandeira sem brasão ou qualquer slogan... enfim, é só uma curiosidade pra vc, pois é ele um artista nordestino, e sua vara é de bambu...rrs...não de qualquer outro material, o bambu é flexível e oco, interessante como matéria e como signo... Sempre que vejo o Retábulo me vem algo diferente, hoje percebi que os atos e os atores estão mais sincronizados, em todo... e percebi também que os figurinos precisam ser lavados... rs...
São atores fantásticos, todos, e o som que Luana está fazendo é muito bom, no tempo e intensidade!
Parabéns Luiz, a todos(as)

Abracadabra!

Sidney Azevedo
Artísta plástico

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

CRÍTICA por ASTIER BASÍLIO

PIOLLIN EXIBE SEU POEMA CÊNICO
Espetáculo consegue a convergência do ambiente como expressão dramática
[CORREIO DA PARAÍBA, Sábado, 05 de fevereiro de 2011]

Astier Basílio

            Em Retábulo, adaptação de uma novela de Osman Lins, Luiz Carlos Vasconcelos conseguiu o que só ensejou em Vau da Sarapalha: que o cenário convergisse como expressão dramática.
            Quando a narrativa da professora Joana, explorada pelos senhores de terra por onde passa, vai se apertando ante à máquina do mundo impiedosa, os bambus, que pontuam o tatame retangular do cenário, dando uma ambiência de zona da mata, simplesmente, se entortam – até que no instante final, quando a estória se fecha e acompanhamos a procissão com os mortos, perfazem uma cúpula, um contraponto imagética com o chão recortado. Em Vau Luiz queria que, no mergulho da febre dos primos, o cenário todo tremesse – façanha que não se concretizou.
            Como Vau, a presença da música é muito forte e tem uma importância fundamental à narrativa. Agora, em vez da explosão percussiva de Escurinho, temos a inventividade de Luana Lima tocando nas cordas do piano tanto os temas como fazendo sonoplastia.
            Por falar em música, a estrutura do espetáculo pede, em alguns momentos, que o elenco cante. Mesmo que a montagem tenha evoluído muito na utilidade do coro, falta música em cena. Com um elenco com oito atores, arquibancadas, à arena, que valorizam as imagens, também me ressinto da falta de coreografias, de dança. É como se o andamento do espetáculo pedisse algo assim.
            A novidade é que Servilio de Holanda, cuja performance como o cachorro Jiló o marcou como ator de potencialidade física, demonstrou habilidade além do que se esperava dele. Trouxe para a cena os movimentos do cavalo marinho. Não dá, por conta do espaço, para detalhar todas as atuações individualmente, mas vale a pena destacar Suzy Lopes, sem dúvida em seu maior papel, interpretando três personagens e sabendo encontrar o tom certo para cada uma delas.
            Destaque ainda para as cenas simultâneas, em que Everaldo Pontes e Servilio, Ingrid Trigueiro e Suzy interpretam os mesmos personagens. Em uma das cenas mais ousadas do ponto de vista de linguagem, temos Soia Lira narrando uma ação e ao fundo o assunto de sua narrativa dramatizado, com os atores falando em voz baixa. Teria que reparar que para maior efeito, que uma ou outra palavra se deixasse escapar para o público – a informação de que o fazendeiro só empresta o seu carro de bois se Joana dormir com ele tem que ser verbalizada. Sem se saber disso, o desenho de cena com a queda de Servilio aos pés de Suzy, de grande poder visual, se esvazia de sentido. Mas a Piollin conseguiu com Retábulo o seu poema cênico.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Wagner Moura tentando falar sobre o Grupo.


Quando estavamos em cartaz no Teatro Vila Velha em Salvador, vários amigos foram nos prestigiar, um deles foi o ator Wagner Moura que muito falou sobre o espetáculo e suas sensações, no vídeo ele tentava falar sobre o respeito que tem pelo Grupo Piollin, mas Everaldo não deixou! Mas valeu Wagner, a gente entendeu o que você estava querendo dizer.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Gotas fundamentais.

O elemento principal do teatro é o ator, encenação e texto (forma e conteúdo) não são nada sem ele. Retábulo tem tudo pra exorcizar e superar esteticamente o Vau, mas somente eles, os atores, poderam dar esse salto, a última palavra é deles. Salve o Piollin!! Vida longa ao Retábulo!!

Daniel Araújo
Ator do Coletivo Alfenin - PB

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Como é bom ver vocês!! Vi ontem no Barracão Clowns e quero ver as vezes que possível, quero seguir nessa experiência, nessas descobertas de vocês. Vida longa ao trabalho, a paixão de viver a cena. Bom demais ver vocês trabalhando, pesquisando, inquietos. Bom demais ver vocês!!! Parabéns!


Titina
Atriz dos Clowns de Shakespeare- RN


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Ave Piollin!

Estive ontem no Barracão dos Clowns, e depois na conversa, tão próxima e tão fértil. Venho apenas dizer de como foi bom, mais uma vez, ver vocês em cena, perfeitos, entregues, assombrosamente refazendo o caminho que vai da vida à morte, e que é o caminho próprio do teatro. Vida longa e saúde a todos, ao espetáculo e ao grupo. Parabéns!



Mariano Tavares - RN


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Assunto: Sobre Retábulo
Ontem não lhe disse sobre Retábulo, mas aproveito esse veículo pra dizer: A peça melhorou sensivelmente. E qdo falo "sensivelmente" essa palavra expõe seu sentido literal. Está chegando, aos olhos, aos ouvidos, à pele, a poesia toca. Assisti ao primeiro ensaio no ano passado e ontem senti que tudo está mais fluido, a trama dramatúrgica mais bem costurada, mesmo em um texto tão denso, tão poético, comunica, chega mais agora. Ficou também mais claro o vaivem do enredo, a simultaneidade passado-presente-futuro, a dança compartilhada de personagens; e as imagens saltam mais aos olhos. Por sinal, belíssimas imagens: o chão do cemitério feito com as malas, as imagens corporais riquíssimas, o carnaval, o desenho cênico, etc. A cenografia e a sonoplastia muito valiosas também, compõem de forma muito concatenada o todo. Admiro sua sagacidade e persistência. Acho que se o teatro não é bombom, é então chiclete que, como diria Clarice Lispector, é coisa que se mastiga a vida inteira, tem gosto de eternidade. 

Um abraço!
 
Pollyana Barros
Atriz paraibana

TEATRO NÃO É BOMBOM


           Em 1998, em Belo Horizonte, durante o Encontro Mundial das Artes Cênicas  ECUM, tomei conhecimento, através da palestra da profesora Leni de Freitas, do processo de rigorosa construção do romance AVALOVARA de Osman Lins, apoiada também, no rigor de outra construção, o poema latino de cinco palavras, cada qual composta de cinco letras: SATOR, AREPO, TENET, OPERA, ROTAS. O poema é apresentado com as palabras sobrepostas umas as outras formando um quadrado de 5x5, com vinte e cinco quadrados menores, cada um contendo uma das letra daquelas palabras, todas  palindrômicas, ou seja: que podem ser lidas da direita para a esquerda, da esquerda para a direita, de cima para baixo e de baixo para cima, mantendo sempre o mesmo sentido “O lavrador sustem cuidadosamente a charrua nos sulcos” ou, “O lavrador sustem cuidadosamente o mundo em sua órbita”. Criador e criação é dimensão humana e dimensão Divina.
          Partindo da estrutura deste quadrado e sobrepondo a ele o traçado de uma espiral que vai tocando sucesivamente as letra, e cada uma destas correspondendo a uma linha da narrativa do romance, num total de oito narrativas, Osman Lins constroi sua ficção multefacetada, dentro de um esquema rigoroso e fascinante para o leitor.
          Desde então venho estudando as estruturas, tanto as existentes na naturesa quanto as urdidas pela criatividade humana, como no caso da obra de Osman Lins, na tentativa de responder as questões nascidas durante aquele evento na capital mineira: É possível também a construção cênica se apoiar em estruturas rigorosas pré-existentes, neste caso específico, na estrutura do poema SATOR? Ou:  é possível uma cena palindrômica, digo: reversa e simultânea, que tenta refletir em si, na maneira como se estrutura, a ordem e a desordem existente no mundo? Como utilizar estas estruturas e seus trajetos mágicos para narrar no teatro?
Entendo que esta questão, sobre a maneira de narrar, é a questão fundamental da cena atual. Como construir, para o público de hoje, narrativas cênicas que possam realmente, instaurar no teatro o não convencional? A encenação do Piollin Grupo de Teatro  tenta dialogar  com as proposituras narrativas osmanianas, tentando instaurar uma cena também rigorosa, apoiada simultaneamente na poesia da palavra e do corpo em ação.
             Oito atores trabalham sobre o, agora tabuleiro, do poema SATOR/ROTAS, seus trajetos simultâneos e reversos. Uma narrativa circular e fragmentada onde as partes se misturam para compor uma unidade, como num retábulo.

Parafraseando Osman Lins podemos dizer "Teatro não é bombom que se suga displicentemente."

Luiz Carlos Vasconcelos
Diretor do Retábulo

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Um pouco sobre RETÁBULO por Vitória Lima



A peça é um trabalho de filigrana.
Cada detalhe é pensado. Cada cena é um quadro. É bom ver Soia, Nanego, Buda, Servilio e Everaldo em
cena de novo. É como um coro afinado. E tem um piano horizontal em cena que é um arraso! Misto de instrumento de corda e percussão. A Suzy está ótima também. E tem a Ingrid, também ótima.
É um atrablho artesanal, e como diz o próprio LUiz Carlos, é um trabalho em processo, em construção. Ele é um mago que constroi cada cena com as minúncias de uma bordadeira da Ilha da Madeira, ou uma
rendeira do Nordeste.
Vi e voltarei.
Não fui a Zeca. Não dava para ver mais nada e de natureza tão diferente, depois daquele espetáculo. Vim para casa pensar, remoer.
Ruminar. Quem sabe eu escrevo alguma coisa depois.

Vitória Lima
Professora de Letras UEPB
Poerisa e Fundadora do Bloco Murisocas do Miramar

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Retábulo, do Piollin, dá aula de mise en-scène por Heitor Augusto

Falar de teatro neste blog? Geralmente, não, mas a peça Retábulo, que está em cartaz neste fim de semana aqui em Natal, merece, sim, que o Urso de Lata largue o cinema e vá para o tablado, ao menos por um post.

A direção é de Luiz Carlos Vasconcelos, palhaço de formação e ator que vai e volta ao cinema. O texto é baseado num livro de Osman Lins, Retábulo de Santa Joana Carolina. A interpretação – além da construção criativa – é do Piollin, trupe paraibana tradicional que tem alguns nomes com passagens marcantes pelo cinema (por exemplo, Everaldo Pontes, de SuperBarroco, e Nanego Lira, de O Grão).

O enredo nos traz a trajetória de uma mulher comum, do povo, Joana. Seguimos três gerações em sua família, com os mesmos atores e atrizes interpretando diversas personagens, com suaves transições de um para outro. Em última instância, extensões de um só personagem.

Fábula interessante, mas infinitamente inferior à arquitetura do texto e à mise-en-scène, características que justificam este comentário sobre Retábulo. Joana pouco fala, sua história é contada por quem está ao seu redor, recurso que me fez lembrar muito o esforço de polifonia do filme O Sol do Meio Dia. Na peça, não há um responsável único pelo discurso: todos que narram são determinantes para o andamento da vida de Joana, nossa heroína.

Fala-se muito, aliás. Mas movimenta-se muito também. Apesar de o espaço físico ser limitado ao tablado, o movimento em cena dos atores é continuo. Cada curva, rabeira, pedaço de madeira em forma de mala de viagem ou bambus espalhados pelos cantos são elementos cênicos. Seria muito difícil transformar Retábulo em filme: como estabelecer uma relação ator-câmera quando a interpretação é contínua e o corpo transborda a ausência de cenário? Jogo duro!

Tomando como exemplo os excertos do texto de Osman Lins presentes em Retábulo, parece ser uma experiência rígida a de ler Retábulo de Santa Joana Carolina – há um pouco da marcação musico-poética de João Cabral de Melo Neto. Mas, assistir a encenação é, digamos, oxigenar as vistas do que se pode fazer em termos de mise-en-scène, mesmo que, nesse caso, seja teatro, não cinema.

Em tempo 1: quem ficou curioso – e, por acaso, também está em Natal –, Retábulo fica em cartaz até este domingo (12/12), às 19 e 21h, no Barracão dos Clowns (Av. Amintas Barros, 4673, Nova Descoberta). R$10 (inteira) e R$5 (meia).

Em tempo 2: o começo do Piollin Grupo de Teatro data de 1976, com a montagem de Aborto, dirigida por... Luiz Carlos Vasconcelos. A cronologia da trupe pode ser conhecida aqui.

Em tempo 3: você sabe o que significa “retábulo”? Nosso amigo que tudo sabe sobre língua portuguesa vem ao nosso socorro, como não! “sm (cast retablo) 1 Trabalho de arquitetura, de pedra ou madeira, com lavores na parte posterior do altar, e em que se representa qualquer motivo religioso. 2 Painel ou quadro que decora um altar. 3 Painel.”

Heitor Augusto
Réporter e crítico.
Escreve para Cineclick
http://ursodelata.blogspot.com/search?updated-max=2010-12-28T11:06:00-08:00&max-results=7

Retábulo e as surpresas do novo por Aline Cruz

Foto e arte: Ricardo Peixoto


            Era para ser uma segunda como qualquer outra, mais um dia de muito trabalho e cansaço vindo do fim de semana. Foi quando soube que Retábulo, espetáculo do Grupo de Teatro Piolin, de João Pessoa, estava em cartaz no Teatro Vila Velha. Ouvi muitos elogios sobre a peça, então decidi assisti-la, na segunda mesmo. Na chegada, notei que o público já enchia a entrada do teatro. Segunda badalada.
            
Já dentro do Vila, a primeira surpresa da noite. Entram Caetano e sua namorada, a argentina Natália; eles vieram assistir Retábulo. Eu gelei. E óbvio que fui puxar conversa com o ídolo. Entrei pra assistir o espetáculo achando que não ia tirar Caetano da cabeça (e ele estava sentado lá atrás, discreto). Achei que ia ficar admirada por Caê a noite toda e não teria o que escrever sobre a peça.
                

Engano, ledo engano.

             Quando Retábulo começou, hipnotizei-me com os sons, com o texto espetacular, com o correr da trama, que envolvia a platéia cada vez mais profundamente dentro da história de Joana Carolina, a moça a quem foram atribuídos vários milagres. Conhecemos diversas Joanas, a jovem, a anciã, todas corajosas e sofredoras, dispostas a tudo por seus filhos e pelo bem das pessoas ao seu redor. De repente eu nem lembrava mais do ídolo sentado no fundo da sala principal (que estava cheia, numa segunda!). O barulho do piano sombrio (mais tarde descobri que era um piano antigo, modificado pelo grupo), das batidas dos pés dos atores, do coro constante que ora simulava o eco, ora lembrava lamentos, me fez quase não piscar os olhos. Engraçado foi que, quando a peça acabou (eu não vou contar o final), um grito ecoou pela sala e eu, paralisada, bati palma de boca aberta. Poucos espetáculos fizeram isso comigo.
             
Afinal, o que é um retábulo? É uma construção de madeira, que fica por trás ou acima do altar, que geralmente conta a história de santos e outras mensagens religiosas. Neste retábulo, a santa é Joana Carolina, que, por sua vez, faz parte da narrativa criada por Osman Lins no livro Nove Novena. O espetáculo tem a direção do ator Luiz Carlos Vasconcelos. Quem topou (eu topei, claro) ainda participou de um debate no final da peça, com direito a matar todas as nossas curiosidades. Os atores dizem que "Retábulo" ainda está em construção: para mim, que esqueci do Caê, enquanto a assistia, está completa.


Aline Cruz

A beleza do Retábulo por Ivana Moura

Foto: Ivana Moura


                   Luiz Carlos Vasconcelos, depois da estreia da peça Retábulo, na sede do Teatro Piollin, disse que o espetáculo não está pronto. Que muitos assombros e surpresas vão surgir do corpo dos atores nos próximos meses da temporada que iniciou nesta quinta-feira em João Pessoa, Paraíba, e segue até março. Se essa montagem já expõe sinais de arrebatamento, imagine quando for inflada de beleza no laboratório de Vasconcelos?! São apostas de que consiga se igualar ou superar em pulsação e vivacidade a encenação emblemática do grupo, Vau da Sarapalha (do texto de Guimarães Rosa), que desde que foi lançada, em 1992, seduziu plateias brasileiras e de outros países.
                  O texto é uma prosa experimental de Osman Lins, autor também do romance Avalovara e de Lisbela e o Prisioneiro (popularizado por Guel Arraes no cinema e na TV), entre outras preciosidades. Retábulo de Santa Joana Carolina, uma das narrativas do livro Nove, Novena, foi publicado em 1966, sob os aplausos dos críticos, pasmados com a inovação poética do escritor pernambucano. Foi a guinada na carreira de Osman Lins. Na ficção, Osman homenageia sua avó paterna, sacralizando sua trajetória de dignidade, generosidade e bondade.
                  No palco, o encenador retirou o aspecto de santificação e investiu na dureza do trajeto humano, de uma mulher do povo, assaltada por perdas, invejas e traições. O grupo paraibano, que tem uma atuação voltada para a formulação de novas linguagens cênicas, arrisca mais uma vez. Forma e conteúdo trilham num caminho radical. Para isso, Luiz Carlos Vasconcelos lançou mão de outro procedimento osmaniano, o do romance Avalovara. Em Avalovara, o escritor concebe a narrativa a partir de um palíndromo latino (Sator ArepoTenet Opera Rotas), que quer dizer: “O lavrador mantém cuidadosamente a charrua nos sulcos”. Ou ainda: “O Lavrador sustém cuidadosamente o mundo em sua órbita”.
                  Esse artifício geométrico está no palco nas 25 casas (quadrados) desenhados no chão que compõem o tabuleiro e são milimetricamente ocupadas pelos atores no desenvolvimento dos 12 mistérios. Nessa intenção de uma cena aperspectiva, o foco narrativo é multiplicado no seu descentramento, a história é contada de forma descontínua e fragmentada. Nisso reside sua força, numa forma que inquieta e exige uma postura ativa do espectador, que poderá se incomodar e perder uma ou outra coisa dessa fábula, devido a agilidade narrativa, ou cruzamento de episódios. Ou na passagem de personagens, interpretados por mais de um ator. “Osman dialoga com a cena contemporânea, do pós-dramático e tudo isso e nos coloca esse desafio”, comemora um entusiasmado Luiz Carlos Vasconcelos.
Retábulo vai crescer muito na cena. “Posso levar cada mistério a um delírio que ainda não está posto”, promete o diretor. Ele, mais do qualquer espectador que assistiu ao espetáculo sabe do processo inacabado que vai sendo construído. O corpo e voz do elenco que miram a precisão; o coro que busca uma ligadura para se transformar num só corpo mais harmônico. As imagens, que já guardam uma beleza rara na composição coreográfica, na rápida movimentação, anseiam pela perfeição ou sua proximidade. O cuidado estético; e o ator como cocriador de uma poética anuncia que vai cutucar esse público sedente por experiências mais radicais.
                        A música executada ao vivo apregoa que vai vestir esse corpo do ator e abismar ainda mais essa plateia em sua sensibilidade. O cenário, com tronco de bambu guarda segredos que serão reveladas aos poucos, a cada nova sessão.
                        O elenco, formado por Buda Lira, Everaldo Pontes, Ingrid Trigueiro, Luana Lima, Nanego Lira, Servilio de Holanda, Soia Lira e Suzy Lopes, mostra a grandeza do talento do Piollim, e muito mais uma entrega que vai explodir em pequenos movimentos e numa fala para dar um nó na cabeça de quem acha que teatro pode ser muito mais. Vasconcelos parodia Osman Lins e avisa “teatro não é bombom que se suga displicentemente”. Teatro é uma experiência inigualável e inesquecível para mergulhar no presente. Retábulo mostra isso muito bem. Parabéns Piollim, Luiz Carlos Vasconcelos, seu elenco e seu grupo por acreditar na arte.
Voltaremos a falar de Retábulo. Ainda há muito que dizer.

Ivana Moura
Jornalista Pernambucana
Editora Diário de Pernambuco
http://www.satisfeitayolanda.com.br/blog/page/2/

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

“A palavra resplandece como iluminura do que se foi”


                         Quadros cênicos. Movimentos cíclicos marcadores de tempo. Ritmo hipnótico e variado. Surgem sensações adversas instigadas por uma dramaturgia que tenciona deixar de ser contemplativa. Retábulo, a nova obra do Piollin Grupo de Teatro, investe em jogos de semiótica que aliam cena e texto.
                        Espero construir um pensamento a partir do que eu senti ao invés de fazer uma crítica analítica, que detalha um dignóstico. Detenho-me tão somente aos elementos usados na construção da encenação, enquanto códigos de um processo que fala por si só. Leio essa recente construção da Piollin a partir os elementos que mais me afetaram os sentidos e me provocaram uma experiência de pensamento.
Verso e reverso. Sem sombra de dúvidas, a dramaturgia e a encenação são resultados de um trabalho similar ao de um ourives. Tomar um texto denso, uma narrativa literária, transpor em cena é um ofício que requer ler imagens sentindo-as, transformando palavras em atos. Isso é estrutural. Heidegger já indicava que o caráter da arte (pensamento, sentido) está para além do suporte material (a pintura pré-existe a tinta). Perceber sentimentos e motivações na literatura faz parte da experiência de ler, enquanto transpor cenicamente essa experiência da leitura faz parte de um exercício de interpretação de uma experiência, traduzindo-a para outro suporte. São elementos da encenação, notavelmente os quadros cênicos (quase imagens fotográficas), que revelam intenções de mostrar (ou ver) o invisível. O resultado de cada quadro cênico, completo na forma, com os atores, adereços cenográficos e iluminação, revela a necessidade quase homérica de traduzir o sensível no palco. Assim, parece-me que Luiz Carlos Vasconcelos lapida a cena com os atores, estudando a respiração dos corpos com a velocidade da iluminação cênica, realizando um teatro tão próximo de características das artes visuais. E esse método flerta com genialidade do concretismo. Os momentos mais evidentes dessa interdisciplinaridade artística são fotografias, quadros congelados de instantes cênicos, ou ainda na explícita construção de uma instalação de blocos (malas em formato de paralelepípedos) que desenha uma cenografia, motivando uma nova percepção sobre o espaço. Nesse sentido, percebo nessa montagem do Piollin Grupo de Teatro, assim como no seu conterrâneo-caçula, o Coletivo Alfenim, que a criação cênica na Paraíba caminha cada vez mais para a incorporação de elementos das artes visuais, com evidente intervenção estética da arte contemporânea, resultando formas artísticas próximas àquelas conhecidas como interdisciplinares. Isso quer dizer que as soluções elaboradas na criação cênica propõem uma relação de interação e intercâmbio de conceitos (e métodos) de artes que se diferenciaram com a modernidade (teatro, artes visuais, cinema, música, arquitetura, esta última que se resolve nas artes cênicas a partir da cenografia).
                        Retábulo também é um convite à experiência de um tempo diferente. Afirmei no início do texto algo que aparentemente pode soar paradoxal: o espetáculo é hipnótico e variado. Certamente, os deslocamentos e o coro dos atores na cena, aliados à sonoplastia multiinstrumental, remetem aos movimentos cíclicos e circulares, com o início similar ao fim, como em uma freqüência que instantaneamente é rompida para dar lugar a uma nova série de movimentos cíclicos e circulares. É variado dentro dessa perspectiva do ir e vir, e acredito que isso guarda algo de hipnótico no espetáculo. E, embora o espectador se perceba envolvido à pura contemplação no meio da dramaturgia, ainda surgem os despertares para outros planos e realidades, como um termômetro da consciência sobre a ficção.
O coro enquanto “personagem coletiva”, ou elemento dialógico da cena, pode ser repensado. É uma solução formidável quando o ritmo, o tom e a clareza da fala são homogêneos entre os oradores. É um risco gigantesco quando executado em um tablado de madeira com o eco das batidas dos pés do atores. Esse elemento, dentro da proposta narrativa e dramática do Retábulo, pode suscitar uma revisão moderna do gênero drama. Vamos ver.
                        Por fim, comentava com o amigo Daniel Araújo, que Retábulo é um espetáculo da palavra. O texto guarda uma enorme potencialidade do espetáculo. Certamente é um desafio de corda-bamba ao grupo de teatro encenar e encarar essa responsabilidade. E a consciência sobre isso penumbra a encenação. No meio de um suspiro ouvimos sua máxima: “a palavra resplandece como iluminura do que se foi”. BRAVO!
Cálice!

Stênio Soares (steniosoares@hotmail.com)

Retábulo
De 20 de janeiro à 27 de março de 2011.
De quinta à domingo às 20h
Sábados 18h - 20h
Direção: Luiz Carlos Vasconcelos
Dramaturgia: Luiz Carlos Vasconcelos, Marcio Maciano e Grupo Piollin
Intérpretes: Buda Lira, Everaldo Pontes, Ingrid Trigueiro, Luana Lima, Naneno Lira, Servilio de Holanda, Soia Lira e Suzy Lopes.

Sobre o Reatábulo por Cristiane Barreto

                 Depois de muitos anos sem ver o Piollin em cena (não vi A Gaivota) e ainda pairando na minha memória visual e emotiva (risos) o Vau da Sarapalha (vi umas cinco vezes entre 93 a 95 aqui em Salvador). Fiquei muito feliz em revê-los em Retábulo, no Teatro Vila Velha, aqui em Salvador.
               
Retábulo traz a marca do Piollin e da direção de Luiz Carlos Vasconcelos: o corpo e voz, imagens, o cuidado estético e o ator no centro de tudo. Uma poética da narrativa, algo muito próximo do que é abordado atualmente pelo Pós-dramático de Hans Thies Lehmann, existe um texto, mas o que importa é o que o encenador faz dele. A presença do coro, o desdobramento dos atores em narradores, também é uma característica citada por Lehmann como sendo uma possibilidade do teatro Pós- dramático. Sinto que falta um equilíbrio na dramaturgia da adaptação entre a narrativa do coro e dos personagens com as cenas. Em muitos momentos as imagens me atraíram mais do que a narrativa. Também acho que o coro podia, mesmo com unidade, buscar diferentes maneiras de falar suas narrativas, a função do coro desde sua origem é do inconsciente coletivo, apontar, criticar, satirizar, ironizar, anteceder algum fato, etc. Enfim, muito feliz em revê-los e também pela adição de novos atores ao grupo.

Sucesso sempre e muita luz iluminando as escolhas e os caminhos de vocês!

Cristiane Barreto
Arte-educadora e diretora teatral
Salvador - BA

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Temporada em João Pessoa



Sobre Retábulo por Daniel Guerra

            É  um espetáculo radical pois existe ali a escolha de algum extremo que ainda não se consegue sondar.  
            Como acontecimento, como relação entre seres, é estranho: essa maneira seca de agir dentro daqueles quadrados de madeira, formando imagens como num jogo de tabuleiro e depois desfazendo-as. É também desumana a forma de dizer o texto, as palavras páiram entre o cruel, a ironia e a displicência com o narrado, não sei se por uma displicência real de todos os atores (o que acho difícil) ou por uma radicalidade estética vinda de fora. Na verdade essa forma de agir dos atores tornou tudo muito sombrio, digo sombrio para falar dessa penumbra que não dá um limite preciso ao que quer que seja, que torna tudo incerto, indefinível. Os personagens não respiram, não transpiram, parecem os fantasmas do Nô mas sem o brilho da máscara, da roupa ou da voz. Posso dizer que existe apenas um personagem no espetáculo, mas eu nunca vi o corpo dele, deve ser um corpo feito de sombra, deve ser um duplo de todos os atores, um duplo que os manipula. Por isso, a única respiração que existe é a dele, uma respiração Una que liga os corpos, o que faz com que a atmosfera vaporize ou se torne aquosa, e isso dificulta a nossa respiração, assim como não se respira bem numa sala cheia de vapor, ou então numa sauna (onde se tem a sensação de relaxamento excessivo chegando a uma espécie de sono), mas por outro lado cria um outro Tempo que nos rodeia e outra forma de estar no espaço.
            A música, associada à essa movimentação, a essa respiração e a esse tempo me induziu a imagens cósmicas, essas de galáxias girando e suas órbitas desenhadas e aqueles desenhos alquimistas onde as coisas são sempre muito misteriosas, insondáveis.
            Não posso destacar claramente os afetos que vivi ao assistir o espetáculo, mas posso dizer que assisti a tudo com os olhos apaixonados de um biólogo que vê uma espécie estranha, e isso não é nem de longe ruim já que me abre outras rotas de percepção de mundo e dessa forma outras formas de sentir, e talvez por isso mesmo é que não possa falar sobre meus sentimentos, sendo todos novos e sem nome. Eu acredito nessas coisas porque não acredito nessa forma corrente de se encarar a vida: automática, complacente, conciliatória. Dessa forma, não o vejo como um espetáculo para quem quer sentir igual, mas para quem se arrisca a sentir diferente. É um baque seco, e quem quiser que o ouça, assim como eu quase não ouvi, mas senti a vibração final quando fiquei só junto com todos no cemitério e a luz apagou com um blam do instrumento estranho.


Abraços,
Daniel Guerra
Formado em Direção Teatral pela UFBA
Diretor Artístico do Grupo Alvenaria de Teatro

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Retábulo em Salvador



                                                 
                                                                                                                        Foto: Crisna Prisna
Nossa terceira temporada foi a capital soteropolitana. Que todas as noites lotou o Teatro Vila Velha, palco de grandes realizações teatrais. Com o espetáculo mais proximo do seu formato de encenação. Mais proximos do objetivo desejado pelo diretor Luíz Carlos Vasconcelos ou pelo menos, com o Grupo compeendendo e se apropriando mais de tal encenação. Nos apresentamos de sexta-feira, 07 a terça-feira, 11 de janeiro.
Obrigada a Bahia de todos os Santos pela acolhida carinhosa.
Obrigada a toda equipe do Teatro Vilha Velha sempre presente no que foi necessário.
Obrigada muito especial a produção local de Selma Santos e sua equipe (Helena, Natália e Alê)
As fotos de Crisna Prisna.
E obrigada a Daniel Guerra por suas palavras postadas à cima.