terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

CRÍTICA por ASTIER BASÍLIO

PIOLLIN EXIBE SEU POEMA CÊNICO
Espetáculo consegue a convergência do ambiente como expressão dramática
[CORREIO DA PARAÍBA, Sábado, 05 de fevereiro de 2011]

Astier Basílio

            Em Retábulo, adaptação de uma novela de Osman Lins, Luiz Carlos Vasconcelos conseguiu o que só ensejou em Vau da Sarapalha: que o cenário convergisse como expressão dramática.
            Quando a narrativa da professora Joana, explorada pelos senhores de terra por onde passa, vai se apertando ante à máquina do mundo impiedosa, os bambus, que pontuam o tatame retangular do cenário, dando uma ambiência de zona da mata, simplesmente, se entortam – até que no instante final, quando a estória se fecha e acompanhamos a procissão com os mortos, perfazem uma cúpula, um contraponto imagética com o chão recortado. Em Vau Luiz queria que, no mergulho da febre dos primos, o cenário todo tremesse – façanha que não se concretizou.
            Como Vau, a presença da música é muito forte e tem uma importância fundamental à narrativa. Agora, em vez da explosão percussiva de Escurinho, temos a inventividade de Luana Lima tocando nas cordas do piano tanto os temas como fazendo sonoplastia.
            Por falar em música, a estrutura do espetáculo pede, em alguns momentos, que o elenco cante. Mesmo que a montagem tenha evoluído muito na utilidade do coro, falta música em cena. Com um elenco com oito atores, arquibancadas, à arena, que valorizam as imagens, também me ressinto da falta de coreografias, de dança. É como se o andamento do espetáculo pedisse algo assim.
            A novidade é que Servilio de Holanda, cuja performance como o cachorro Jiló o marcou como ator de potencialidade física, demonstrou habilidade além do que se esperava dele. Trouxe para a cena os movimentos do cavalo marinho. Não dá, por conta do espaço, para detalhar todas as atuações individualmente, mas vale a pena destacar Suzy Lopes, sem dúvida em seu maior papel, interpretando três personagens e sabendo encontrar o tom certo para cada uma delas.
            Destaque ainda para as cenas simultâneas, em que Everaldo Pontes e Servilio, Ingrid Trigueiro e Suzy interpretam os mesmos personagens. Em uma das cenas mais ousadas do ponto de vista de linguagem, temos Soia Lira narrando uma ação e ao fundo o assunto de sua narrativa dramatizado, com os atores falando em voz baixa. Teria que reparar que para maior efeito, que uma ou outra palavra se deixasse escapar para o público – a informação de que o fazendeiro só empresta o seu carro de bois se Joana dormir com ele tem que ser verbalizada. Sem se saber disso, o desenho de cena com a queda de Servilio aos pés de Suzy, de grande poder visual, se esvazia de sentido. Mas a Piollin conseguiu com Retábulo o seu poema cênico.

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